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PROGRAMA DE DOCÊNCIA MAÇÔNICA
PEÇA DE ARQUITETURA
Marconi Matareli Câmpara – Comp.: M.:
A ESPIGA.
O objeto tema desta peça de arquitetura é de natureza orgânica, vegetal e pode ser descrito, do ponto de vista botânico na Wikipédia, como um tipo inflorescência de flores sésseis ao longo de um raquis (eixo da inflorescência). Quando o eixo é grosso e carnoso, a inflorescência chama-se espádice, que é a característica física da espiga, que pode ser de trigo ou de milho, sendo que nestes a espiga é classificada como composta, por possuir, no seu eixo floral, espiguetas no lugar das flores sésseis. Ao mentalizarmos uma espiga de trigo ou de milho logo nos vem a imagem de inúmeros e saborosos tipos de pães, ou de uma bela, amarela e suculenta espiga de milho cozida, nos remetendo à idéia de fartura e abundância. Na mitologia romana, a deusa da agricultura e do amor maternal, Ceres, era representada por uma espiga de trigo. Como no mundo profano, a presença deste espécime vegetal, que pela sua antiguidade e importância na historia da humanidade tem todo um presente e um passado de glória e triunfo, também encontra-se registrada na Maçonaria. No Painel Alegórico do 2º Grau, encontramos uma figura humana, entre os dois grandes Pilares, voltada para o lado exterior do Templo, olhando para uma colina, aos pés da qual nasce uma corrente d’água que passa bem defronte do Pórtico, ao lado de uma Espiga que fica à margem da corrente. Qual o significado desta imagem? E a Espiga, seria de milho ou de trigo? Teria ligação com algum simbolismo do ritual do Grau de
Comp.:? A Palavra de Passe do Grau de Comp.:, “Schibolet”, parecia ser o ponto de convergência das teses, mas diversos questionamentos ainda surgiram com o passar dos anos, gerando mais e mais controversas interpretações sobre a imagem. Porém, de acordo com o Ir.: Assis Carvalho, em “Cadernos de Estudos Maçônico”, o esclarecimento melhor fundamentado foi descrito pelo Ir.: Reverendo Neville Baker Cryer, membro da Loja de Pesquisa Maçônica mais antiga do mundo, a “Quatuor Coronati”. Em 1983, sob o título de Palavra Teste, foi publicado nas Atas da “Quatuor Coronati”, na página 222, do Volume 96, do corrente ano, um trabalho voltado para o Painel Alegórico do 2º Grau, e que fez uma ligação direta da Palavra de Passe com a figura da Espiga. Eis um trecho da peça publicada:
“Desde há muitos anos, três questões sempre me vêm à mente, toda vez que ouço uma explanação sobre o Painel do 2º Grau.
a – Porque a palavra Schibolet é representada em nossa Lojas por uma Espiga de Cereal, próxima a uma Corrente de Água?
b – Porque tal Palavra de Passe foi escolhida como prova para que os Jeftistas recebessem proteção ao atravessar o Rio Jordão? Será que foi somente para testar a ‘Aspiração’?
c – Por que é que os Efrainitas não conseguiam pronunciar a Palavra Schibolet dizendo Sibolet? Havia uma tendência para pronunciar errado, ou era uma pequena deficiência, comumente distinguida?
Estávamos assim quando deparamos com um artigo publicado no Journal of Semitic Studies (Jornal de Estudos Semíticos), escrito pelo Sr. Alfred Felix Landon Beeston (1911-1995), orientalista inglês conhecido por seus estudos da língua árabe, no outono de 1979. Ele conseguira, numa só tacada, responder às minhas três perguntas, minhas três preocupações. Uma das primeiras Notas – ou Proto-Linguagem Semítica – dizia que na PS (Password – Palavra de Passe) havia três formas de sons diferentes para a Letra “S”. Uma macia
suave (SOFT), outra, uma forma áspera, ríspida (SS) e uma forma aspirada (SH). Assim, como nas mais antigas linguagens, ou as Velhas Linguagens, ainda hoje, correntemente usadas. A variação de cada letra é tal que se torna necessária a compilação de um vocabulário, de número limitado de consoantes básicas. Nesse caso, a PS (Palavra de Passe) Espiga de Cereal, provavelmente significa Schibolet. Desse fato podemos deduzir que a palavra Efrainita, em Árabe e Médio Semítico, tem outro significado e grafia. ‘Sibolet’ ou ‘Sblit’ significa ‘Curso d’água’, ‘Queda d’água’, ‘Leito de rio’, ‘Canal’, e era grafado ‘Sebil’, e que está claramente encadeada, unida à palavra Semítica, atual (Sebil=Shebil). De qualquer forma, e por desconhecer essas nuances, o soldado guerreiro Efrainita, não Hebreu, usava uma palavra igual, similar, parecida, válida para ambos os símbolos. Uma Espiga de Cereal ou um Riacho, ou Leito de Rio, significados que ainda hoje damos à Palavra Schibolet, ou Sibolet.”
Para ficarmos somente na primeira questão elaborada pelo Ir.: Cryer, torna-se clara a ligação da imagem da Espiga de Cereal e a Corrente D’água com a Palavra de Passe do 2º Grau. À época da criação do Grau de Companheiro, os Maçons “Aceitos”, buscando no Velho Testamento uma palavra-senha, encontraram-na na passagem que relata a guerra entre Jefetistas e Efrainitas, e a trouxeram para a Maçonaria. Fica claro também a intenção do desenhista que elaborou o Painel Alegórico, ao colocar o Rio e a Espiga, lado a lado, para justificar o fato de a palavra hebraica Schibolet significar Rio e Espiga, e que tanto Árabes e Judeus sabiam do que se tratava. E não podemos nos esquecer de esclarecer, como foi questionado no início, de qual cereal seria formada a Espiga, e podemos afirmar que, pela época que o desenhista procura retratar no Painel, a humanidade ainda não conhecia o milho e, portanto, a Espiga seria de trigo. E representaria ainda a união fraternal dos IIr.: (espiguetas) na composição de uma Loja (Espiga) forte e produtiva.
REFERÊNCIAS
1 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Espiga. Consulta realizada em 09/03/2012.
2 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Neville Baker Cryer. Consulta realizada em 09/03/2012.
3 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred Felix Landon Beeston. Consulta realizada em 09/03/2012.
4 – CARVALHO, Assis. COMPANHEIRO MAÇOM. 2ª Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha”. 1996. Págs. 51 a 56
5 - Grande Loja Maçônica de Minas Gerais. RITUAL E INSTRUÇÃO DO GRAU 2. R.: E.: A.: A.:. Iniciação. Grau de Companheiro. Elevação. 1999. Pág. 55
Oriente de Belo Horizonte-MG, 12 de Março de 2012
Marconi Matareli Câmpara
Comp.: M.: